INTOXICAÇÃO POR METAIS PESADOS
Voltamos a falar sobre esse assunto que ultimamente tornou se conhecido e alarmante o número de casos de calopsitas com este diagnóstico.
Peço que leiam com calma e atenção, pois o conhecimento é um importante alerta e uma maneira de prevenir este tipo de problema.
A classe dos psitacídeos se caracteriza por terem bicos encurvados e específicos para quebrarem e descascarem sementes na natureza. São aves coloridas e exuberantes. Com o passar do tempo e a aproximação do homem essas aves começaram a se tornar bichos de estimação. Entre as espécies mais conhecidas estão os papagaios, as araras, as calopsitas, os periquitos, os ring necks, as aratingas, as cacatuas, agapornis, entre outras.
Uma das principais características dessas aves é a constante curiosidade. Devido a esse comportamento é que estão sujeitas a grandes perigos.
A intoxicação exógena (de origem externa) por chumbo e outros metais pesados vem sendo uma das piores afecções que acometem essas aves. As aves são mastigadores por natureza e na grande maioria das vezes, são atraídas por objetos estranhos, chamativos e brilhantes. E pelo simples fato de ficarem bicando estes objetos, onde em sua composição tenha o metais pesados (o mais comum é o chumbo) é que acabam se intoxicando.
Uma vez ingerido, estes metais comprometem vários sistemas do organismo. Como o sistema nervoso, sistema renal, o sistema digestivo e o sistema hematopoiético (responsável pelo desenvolvimento e maturação dos elementos figurados do sangue a partir de um precursor celular comum). Os metais pesados competem ou substituem vários elementos fundamentais para o funcionamento das células, como o cálcio, ferro, magnésio e zinco. O chumbo tem maior afinidade de ligar-se a importantes compostos orgânicos para formação de proteínas e catalização de enzimas. Quando isso ocorre há inativação ou deformação desses grupos e consequente prejudicando a função das proteínas e enzimas.
Vários sinais clínicos são observados, dentre eles destacam se a letargia, anorexia, depressão, emagrecimento, hematúria, dierréia, ataxia, fraqueza muscular, inclinação da cabeça constante, paralisia de membros, convulsões e morte. O diagnóstico não é fácil, pois nem sempre o tutor observa com frequência o que a ave ingeriu ou bica com frequência.
Uma anamnese minuciosa, exames de raio-x, de sangue como o hemograma e bioquímico são métodos usados para se concretizar tal diagnóstico.
Entendendo esse tipo de intoxicação, no caso do chumbo, este liga-se com maior frequência aos grupos sulfidrilas (sequência de aminoácidos que formam proteínas), e com outras enzimas que se enquadram no grupo sulfidrila, a ação é a alteração da forma ou gerando inatividade destas proteínas e enzimas que são importantes nas reações metabólicas no organismo. O chumbo compete ou substitui os elementos. Relativamente o chumbo é insolúvel em água, porém uma pequena quantidade é absorvida através do trato gastrointestinal.
O chumbo é amplamente distribuído nos tecidos moles, rins, fígado, cérebro e no tecido ósseo. Neste último serve como local de armazenamento em longo prazo.
A meia-vida do chumbo é multifásico por causa da sua redistribuição dentro de vários compartimentos do corpo. Por exemplo, a meia-vida de chumbo no sangue total é de aproximadamente 35 dias, enquanto que no tecido cerebral e nos ossos podem chegar a dois anos. Remodelação óssea avançada associada com a postura ou deficiência de cálcio e fósforo na dieta podem mobilizar o chumbo desses órgãos de deposição,podendo gerar novo epísodio de toxicose.
Os efeitos nos diversos sistemas:
- Sistema Nervoso Central e Periférico
No Sistema Nervoso a bainha de mielina dos neurônios é danificada. Isso prejudica a condução de sinais nos nervos afetados, causando prejuízos na sensação, movimento, cognição e outras funções dependendo dos nervos envolvidos, aumento do fluído cérebro espinhal, edema perivascular, competição de cálcio nas junções mioneural, mudanças no metabolismo neural, degeneração do nervo motor. Os sinais neurológicos decorrem, tanto nas intoxicações agudas como nas crônicas.
- Rins
Como já citado acima, o chumbo é depositado por um breve período nos tecidos moles. Nos rins formam-se complexos de proteínas. E posteriormente causando nefropatia tubular (que acometem primariamente os túbulos e o interstício renais, causados pela intoxicação por metais pesados).
- Trato Gastrointestinal
No trato gastrointestinal ocorre necrose dos enterócitos, levando a estase gastrointestinal ou íleo paralítico incluindo dilatação ventricular. No fígado ocasiona degeneração e necrose.
- Sistema Hematopoiético
No sistema hematopoiético os efeitos da intoxicação incluem destruição prematura e diminuição da produção dos eritrócitos, interferência na síntese levando a anemia e consequente a hipóxia. E eventualmente em casos crônicos aplasia de medula.
O urato nas fezes em sua maioria apresentam hematúria (presença de sange na urina) ou hemoglobinúria (concentração alta de hemoglobina na urina), a coloração pode variar do rosa, vermelha ou bege(coloração tipo a cor de leite com chocolate). Outras colorações podem ser observadas, como amarelo, verde, amarelo-limão devido ao aumento da excreção da biliverdina pela bile.
As penas podem ficar espetadas ou sujas devido a repetidos episódios de vômitos.
Poliúria (urina em excesso ou com maior frequência) e polidipsia (sede em excesso, maior ingestão de líquidos) estão presentes.
A ave fica responsiva ou pouca responsiva a estímulos e vocalização.
ALGUMAS FONTES DE CHUMBO
Soldas de gaiolas com chumbo, tinta velha de paredes, pesos de cortina, brinquedos confeccionados com partes de metais, gesso (cuidado com a pedra ossiba de embalagem verde pois contém gesso na sua composição), massa de vidraceiro, linóleo (material utilizado no revestimento de pavimentos com adição de chumbo), partes traseiras de espelho, solda de janelas de vidro colorido, bijuterias, invólucros de ferragens, arame galvanizado, sinos com badalos de chumbo, cerâmicas inapropriadamente esmaltadas, pilhas elétricas, baterias e até em alguns alimentos (sementes) e farinhadas manuseadas de forma adequada sofrendo contaminação externa.
O TRATAMENTO
O tratamento consiste principalmente na remoção do chumbo através da terapia de quelação (envolve a administração de agentes para tratar o envenenamento tóxico do metal. Estes agentes chelating ou chelants são usados para remover os metais pesados do corpo nos casos da overdose, do envenenamento ou da acumulação). O uso de catárticos (medicamento que apressa e aumenta a evacuação intestinal) é recomendado para melhor eliminação do metal. Porém, partículas maiores podem ser retiradas com endoscopia, lavagem gástrica ou até mesmo procedimentos cirúrgicos para remoção destes fragmentos.
Muitas vezes a ave necessita de um suporte suplementar como administração de fluidoterapia (administração de soro) para repor os eletrólitos que foram perdidos no vômito e na diarréia, de vitaminas do complexo B para evitar deposição de metais nos tecidos, ferro para anemia, em casos muito graves até mesmo transfusão sanguínea poderá ser necessária.
Recomenda se uso de antibióticos para evitar infecções secundárias. Dependendo do dano neurológico o uso dee benzodiazepinas é utilizido para reduzir as convulsões. A recuperação depende de vários fatores. A quantidade ingerida pela ave, o quanto afetou os sistemas do organismo e como o a ave vai responder ao tratamento tão logo este seja iniciado. Todos esses fatores citados sendo esclarecidos e a ave respondendo bem ao tratamento as chances de recuperação é alta.
EVITANDO ESTE PROBLEMA
A maneira mais óbvia de se evitar intoxicação por metais é minimizar a exposição das aves a objetos que contenham estes na sua composição ou fabricação no caso dos brinquedos (qualquer um deles, sendo o mais comum o chumbo).
Se a ave vive fora da gaiola a maior parte do tempo, é importante sempre manter vigilância constante sobre o que ela possa a vir mexer, ficar brincando ou bicar em objetos.
Quando for adquirir uma gaiola observar se é revestida, geralmente essas novas gaiolas tem como material de revestimento o epóxi, este é seguro para aves que ficam toda hora bicando a gaiola.
Com os brinquedos, comprar aqueles que não representem risco de intoxicação não somente para as aves, mas para qualquer outro animal que estiver no mesmo ambiente. Sempre observar do que é feito.
Evitar que a ave fique perto de automóveis (garagem). Assim se evita a inalação dos gases liberados pela queima do combustível.
Comprar somente alimentos destinados a aves e em lugares onde a fabricação não seja duvidosa, de armazenamento e manuseio correto.
Este é um tipo de problema que não se deve buscar tratamentos paliativos ou de origens duvidosas, isso coloca em risco a vida da ave.
Consulte sempre um veterinário, somente ele esta apto a realizar o atendimento e realizar exames imprescindíveis para um diagnóstico correto e iniciar tão logo o tratamento.
Mais uma vez espero ter ajudado a esclarecer algumas dúvidas sobre essa questão e se me coloco a disposição caso tenham alguma dúvida.
Renata Martins.